“Um assobio para a mudança” é o título do texto que Jaqueline Lima Santos, graduada e mestre em Ciências Sociais, doutorada em Antropologia, dedicou à música e vídeo da rapper angolana Eva Rap Diva, reconhecendo-lhe a arte e um grande valor, do ponto de vista social…
“Porquê é importante ter esperança num contexto de tantas desigualdades? O que nos faz acreditar que um dia as coisas irão mudar? A música “Um assobio meu”, de EvaRapDiva, traz uma mensagem sobre a realidade do povo angolano, demostrando que é possível trabalhar criticidade, emoção e esperança no mesmo projeto.
“Porquê é importante ter esperança num contexto de tantas desigualdades? O que nos faz acreditar que um dia as coisas irão mudar? A música “Um assobio meu”, de EvaRapDiva, traz uma mensagem sobre a realidade do povo angolano, demostrando que é possível trabalhar criticidade, emoção e esperança no mesmo projeto.
Uma realidade traduzida em versos que mobilizam os sentimentos dos ouvintes para olhar o cenário que, de tão batido, acaba sendo naturalizado. Nela, a MC faz do cidadão mais comum ao mais privilegiado rever-se e refletir sobre qual sua posição e papel no país estar onde está.
A música traz as diferentes dimensões e identidades presentes no emaranhado de contradições que é Angola. Aborda temas como como o caos na saúde pública, a violência, o trabalho precário, a corrupção, o acesso à educação, a invisibilidade, o esquecimento e a prostituição. “Eu sou neta da zungueira que eles batem sem dó/
Como é que eu posso aceitar que batam na minha avó/
Eu sou a filha do soldado que lutou pela paz/
Que hoje vê a sociedade a deixá-lo pra trás/
Eu sou o estudante… com o ensino mutilado/
Porque o professor exibe um diploma que é comprado/
A culpa é minha, a culpa é tua, da polícia e do bandido/
Como é que eu posso aceitar que batam na minha avó/
Eu sou a filha do soldado que lutou pela paz/
Que hoje vê a sociedade a deixá-lo pra trás/
Eu sou o estudante… com o ensino mutilado/
Porque o professor exibe um diploma que é comprado/
A culpa é minha, a culpa é tua, da polícia e do bandido/
A culpa é de quem corrompe, não é só do corrompido/” Estes versos colocam todos os cidadãos angolanos no mesmo barco porque, embora tenham condições diferentes, são herdeiros da mesma história. Você pode ser um angolano rico, mas num contexto pós-colonial tão recente não há como não ver sua identidade refletida num desses versos. O preço das desigualdades é um cenário difícil de encarar, mas que recai sobre todos.
O vídeo da música “Um assobio meu” explora várias posições e contextos que fazem Angola ser marcada pela injustiça social. Está tudo diante dos nossos olhos… mas este trabalho junta olhares, posições e histórias e, ao tocar na sua alma, faz-te sentir parte, faz-te responsabilizares-te.
Vai sair da sua zona de conforto e começar a mudança por você mesmo? A música é um alerta, um chamado e um apelo.”